segunda-feira, 25 de junho de 2007

A arte de vender sem mostrar

Uma linda mulher aparece na tela. Mergulhada em água cristalina, a musa está envolvida por um longo e delicado tecido cor-de-rosa claro. Ela gira suavemente em torno de si mesma. O movimento da câmera é lento, assim como ela. Uma palavra é sussurrada pelas caixas de som da minha TV, a modelo some. Era um comercial de marca de piscina? De roupas pra festa? De remédio emagrecedor? Não, era de perfume!

Aderi à teoria de que quanto mais gigante a marca, menos ela faz publicidade de si mesma. E o pior é que dá certo. Os comerciais de perfume são o melhor exemplo. Como é a fragrância de Flower by Kenzo? Sei lá. Mas na última vez que fui a Rivera, entre aquelas milhares de prateleiras dos freeshops, meu nariz foi direto para o seu frasco. A Coca-Cola é outra que vende sem falar de refrigerante. “Viva o lado Coca-Cola da música”. Não sei o que é uma coisa Coca-Cola, mas certo que é bom. Pra mim a gota d’água foi quando a Puma foi pro shopping Iguatemi: a loja não tinha nome! A Puma é uma marca tão sólida que ela nem põe logotipo na frente da sua nova filial.

Semana passada, assisti a um documentário no GNT chamado A Arte de Persuadir. Discutia o futuro da publicidade num mundo em que as pessoas a odeiam. Porém ela tem que existir de alguma forma. O programa trazia um conceito nojento, mas interessante: consumidores são como baratas, quanto mais inseticida, mais resistente eles ficam. Assim, o motivo pelo qual as supermarcas não anunciam seus produtos é que isso não vende mais. Todo mundo sabe que o sabão em pó tal NÃO limpa mais que ‘um sabão em pó comum’. Isso é como a história das baratas: já estamos imunes. Agora, não se vende um produto, e sim, uma emoção, a way of life. Tipo aqueles comerciais de margarina, mas pra tudo.

Tão interessante quanto o documentário era vê-lo na tv, porque ele era interrompido por... sim, por comerciais. Era tipo a apostila de exercícios, ver na prática o que eles teorizavam. A Claro dizendo “a vida na sua mão”... Excuse me, but... vocês não vendem celular?! Se eu pudesse ter a minha vida na mão eu pagava muito mais que 10 x 99,90...

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Lisa Says

Mais um dia de chuva em Porto Alegre. Meus fones de ouvido estavam milimétrica e estrategicamente bem posicionados para que não fossem vistos. E ninguém melhor que Lou Reed como companhia num dia chuvoso como esse (aliás, como esse e como todos os outros. Acho que as nuvens negras gostaram dos pampas, porque se recusavam a ir embora...). Andava eu pela Protásio Alves, tudo alagado. Meus tênis se encontravam numa incessante fuga contra poças. Ou melhor, lagos. Mesmo que de capuz e de sombrinha, I was taking a Walk on the Wild Side.

Mas o meu rancor com a chuva acaba aqui. A não ser por questões práticas, como ‘onde eu vou guardar a minha sombrinha molhada no ônibus?’ e por despertar o espírito sádico dos motoristas (sempre tem um engraçadinho pra jogar a água do meio-fio nos pedestres!), eu A-DO-RO a chuva. Isso mesmo: A-DO-RO. Call me Vicious if you want to, mas um final-de-semana de pura água me faz sorrir.

Um mês atrás mais ou menos, ouvi num seriado que a neve democratiza. Pode haver uma escultura ou uma lata de lixo: por onde a neve passa, tudo fica igualmente belo. Talvez dispensando a beleza estética, a chuva também se preste ao processo democrático. Quando ela chega, cai igualitariamente (ou aleatoriamente) em qualquer parte da cidade. No barraco e no condomínio fechado, as crianças choram por causa do barulho. O poodle e o vira-lata giram em volta deles mesmos e latem sem parar.

Seu ruído é mágico e sempre reconhecível. Não importa onde os pingos caiam, som de chuva é sempre som de chuva. E, mesmo que totalmente comum, é sempre anunciado: ‘Olha, tá chovendo!’ e sempre conferido : ‘Sério?!’, os olhos se dirigem à janela. Mantém os preguiçosos e os anti-sociais em casa sem culpa. ‘Bah, vamos sair?’, ‘pois é... é que tá chovendo...’. A luz é igualmente misteriosa. Um flash aleatório de qualquer lugar, inesperadas fotos sem negativo.

Dias de sol têm uma beleza óbvia. But with any rainy day you can dance your blues away.

domingo, 10 de junho de 2007

DENOREX

Quando eu era pequena, passava tardes e mais tardes assistindo à televisão. Às vezes, ali aparecia uma imagem de arquivo, uma cena de telenovela de 30 anos atrás. Então as cores ficavam opacas, estranhas. E eu pensava: será que as pessoas notavam que aquelas cores mostradas na tela não eram como as reais? Eu arriscava que não e me assustava: será que as cores que eu vejo HOJE na TV não são como as reais, mas, como eu sempre as vi assim, elas parecem ser?

No ano passado, vi uma partida de futebol numa TV normal e numa HDTV (High Definition Television, traduzindo, televisão em alta definição). Minha dúvida cromática foi sanada rapidamente: o que na primeira era cor, na segunda era cor ao quadrado. Imaginei meus olhos castanhos e pequenos arregalados, de um ângulo alguns centímetros mais abaixo do que de onde vi aquele jogo.

Se eu ainda fosse criança, teria ido para casa pensando que nem tudo é como parece ser. Como estudante de jornalismo... pensei o mesmo. Mais canais, pluralismo da informação, interatividade, inclusão digital, mobilidade: a digitalização da TV tem muito mais a oferecer do que simplesmente cores vibrantes.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Tributo a Gilnei Marques



Quero ser jornalista desde os meus 13 anos de idade. Quem me inspirou a tomar essa decisão foi meu tio, Gilnei Quintana Marques. Um grande tio, um grande cara, um grande blogueiro (http://www.tropicodecancer.blogger.com.br/), um grande jornalista. Tudo isso com uma grande personalidade, até o último dia de sua vida.

Hoje seria seu quadragésimo primeiro aniversário. Então, faço um pequeno tributo com um dos textos mais bem escritos que eu li ultimamente. É sobre o meu tio. Talvez precise conhecer um pouco o meu tio para que se entenda plenamente as boas idéias do autor. Sim, eu não tenho uma visão imparcial para dizer se ele é realmente bom... então conclua você se ela é uma boa crônica. Ah, sim: o texto é de Jaime Wagner, colunista do Baguete Diário (www.baguete.com.br), publicado no dia 22 de maio de 2007.


Gilnei de novo
Várias vezes, tenho tido o impulso de pegar o telefone e falar com o Gilnei. Mais do que saudade, é necessidade. O texto abaixo é do primeiro semestre de 2005. Na época, escrevi-o meio que a título de provocação. Publico-o agora como um tributo à memória do meu amigo e como uma necessidade de falar com ele, ou sobre ele, ou sobre ele em mim ou eu nele.


Gilnei. Do verbo gilnar: gilnei, mas desculpe, foi sem querer. Quando vi, já tinha gilnado. Quer dizer... Foi meio sem querer, “sem querer querendo”, a la Chavez. Mas por que é que eu estou me desculpando? Gilnei sim, porque não haveria de gilnar? Gilnarei quando quiser e enquanto puder. E vocês que me engulam. Ou me cuspam. Como quiserem e lhes aprouver.


Tá bem... Gilnei de novo, eu sei. Mas isso é a essência de gilnar. Não é para qualquer um. Há que ter coração e estômago. E dois culhões. E um bilhão de neurônios, assim: por baixo. E a maior parte deles termina lá. – no coração, no estômago e nos culhões. Ou talvez, comece lá. Sou duro sim, às vezes, mas o que é que tem? Se não gostou, por que continua aí lendo?


Desculpe, já ia gilnando de novo. É a veemência de um ser polêmico por natureza. Por isso fiz jornalismo. Não para ser assessor de imprensa; sou assessor de opinião. Aliás, ditador de opinião: eu digo qual é a opinião que tu deves ter. E ainda te contradigo. E se quiseres discordar de qualquer um dos lados, já terás a tréplica.


Viu: gilnei de novo. Gilnar é assim. Gilna-se em ondas, como o mar. Às vezes, mansamente se derramando na praia, outras furiosamente se debatendo contra as pedras. Mas sempre líquido: envolvente e profundo.




quinta-feira, 7 de junho de 2007

Procuram-se órfãos

Numa sociedade em que há crianças abandonadas para dar e vender – literalmente (!) – um certo grupo de órfãos pode estar em falta: os carentes por um bom jornalismo. O documentarista João Moreira Salles fez parte da categoria. Sentia falta de matérias de qualidade e resolveu fazer algo a respeito. Com um pouco de entusiasmo e outro tanto de dinheiro, lançou a revista Piauí.

Com o avanço das tecnologias e o advento da Internet, a maneira de informar entrou em crise. Já há estrutura física para que um fato vire notícia, e esta circule pelo mundo em minutos. Assim, inicia-se a maratona pelo ‘furo’. O veículo vencedor é aquele que fizer a notícia chegar primeiro ao público. Conseqüentemente, entre um quilômetro e outro da corrida, perde-se qualidade. As revistas e os jornais também entraram na competição, mas, quando se trata de instantaneidade, ficam de lanterninhas. Querem tanto se igualar aos outros meios que a maioria encurta seus textos, enxuga suas páginas, as inunda de imagens, e trata do que já foi dito ontem na Internet, no rádio e na televisão.

A Piauí é o atleta que tem surpreendido a torcida quando dá meia volta e corre para o lado contrário. A revista não tem a pretensão de contar um fato antes dos outros. Ela quer entregar a informação que os outros não deram, dar o contexto da notícia. Além disso, seus escritores (não necessariamente jornalistas) misturam ficção e realidade, para tornar o assunto interessante e manter o leitor até o último ponto final do texto. É um adeus à pirâmide invertida.

Sem dúvida, é um movimento audacioso, louvável. Salles não acredita nem em uma possível futura concorrência. É caro e difícil fazer uma revista de qualidade, surpreendente. Porém, a estréia da Piauí também dá um outro lançamento: a pergunta ‘há quem leia essa revista?’. Esse é um questionamento muito mais complexo do que se ‘tem quem a compre?’. Os dados já comprovam: estimava-se que a venda mensal seria de 10 mil exemplares e hoje é o triplo. Então tem quem gaste dinheiro com jornalismo de qualidade sim.O marketing da Piauí é: uma revista para quem tem um parafuso a mais. E todo mundo quer ser inteligente e culto. Ser contra a tendência mundial de superficialidade no jornalismo é simples. Ler quase 70 páginas standard (ou, mais otimista, ler apenas a maioria dessas folhas) de letras minúsculas mensalmente é para poucos. Há, não só no Brasil mas em todo o mundo, um desejo de apreciar a leitura, de estar bem informado e de ter uma opinião bem estruturada sobre os temas mais diversos. Porém a paciência (e também o tempo) esgota-se já nos primeiros parágrafos. É por isso que a TV faz sucesso. Uns parafusos faltando não fazem grande diferença na compreensão das (maioria das) mensagens. A Piauí corre o risco de ser aquela revista de guardar em cima da mesa de centro da sala de estar. A capa é interessante, mostra que o anfitrião tem estilo. A pergunta é se ele realmente tem um parafuso a mais.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Penso logo.... existo?


Descartes que me desculpe. Mas ultimamente percebi que é preciso muito mais do que pensar para existir. Pelo menos, para existir no mercado jornalístico. Pensar não serve para (quase) nada quando ninguém fica sabendo das suas reflexões.
A internet é, pelo menos nesse caso, minha grande aliada. Escreverei aqui semanalmente sobre o que me der na telha. Se no meu telhado aparecerem vários assuntos (que eu achar) relevantes, postarei mais seguido. Ah, quero colocar também imagens aqui. As que eu fotografar, de preferência, já que essa é uma (outra) paixão minha.

Bom, vamos aos textos!

meu telhado está cheio de idéias.