segunda-feira, 16 de julho de 2007

Ponto F

Existe uma sensaçao que só se tem algumas vezes na vida. É como se um pedacinho do céu se desprendesse e chegasse até você, tipo calota polar em pleno aquecimento global. Parece que o ar abraça narinas e pulmões, e sorrir torna-se inevitável. Pode ser chamada de felicidade, porém nao é uma felicidade qualquer, trivial. Tem que ser daquelas que fazem a vida ter sentido.

Esse momento é tao especial que nunca é esquecido. Em 18 anos, tive três desses instantes. O primeiro, aos 11. Minha mãe estudava em Leeds, um pólo universitário da Inglaterra, no qual migram estudantes do mundo todo para desfrutar de um ensino de ponta. Meu pai e eu fomos visitá-la. Num passeio pela cidade, entramos na livraria Border´s e fomos tomar um chocolate quente (naquela época, ainda não havia nem sombra da Livraria Cultura em Porto Alegre. A Saraiva MegaStore só surgiria meses depois. Então beber qualquer coisa segurando um livro não-comprado era uma novidade para nós). Sentados na mesa ao lado da janela, o vapor da bebida entrava calorosamente pelo meu nariz. Um pedaço de coockie Millie´s (o ME-LHOR coockie de TODOS os tempos!) já havia sido abocanhado quando fui apreciar a vista. Indianos, japoneses, africanos: aquela gente apressada compartilhava a rua com os meus olhos. Foi ali que ocorreu.

O segundo, um pouco mais clichê, aconteceu quando eu tinha 16 anos. Apaixonada, tive esse momento o lado do meu primeiro namorado (se eu soubesse usar todos os recursos multimídia que a Internet proporciona, agora haveria um coro de meninas dizendo "oooohhhhh", de um jeito meloso e demorado). Passávamos as tardes na sua casa, depois da aula. Horas e horas basicamente olhando um para o outro. Estávamos os dois embalados por um edredom preto. Ele deitado e eu sentada. Falávamos sobre o futuro, sobre o que queríamos ser na vida: não profissionalmente, mas como pessoa. Olhei para ele, ali, com as mãos embaixo da nuca, e acreditei profundamente que eu era a criatura mais sortuda do mundo. E aconteceu.

O terceiro foi em fevereiro deste ano, quando viajei para Montevidéu. O Uruguai sempre teve um certo poder sobre mim. Com uma família fronteiriça, temos alguns amigos no país vizinho. Assim, viajamos para lá diversas vezes, das quais guardei boas recordações. Porém, foi apenas nesta viagem que me dei conta do quão AMO Montevidéu. Os prédios sao antigos, de um jeito meio mal conservado, perfeito para fotografias. As roupas são, em sua maioria, baratas e exatamente do meu gosto. As ruas são seguras e cobertas de plátanos. Por todos os cantos, há confeitarias, com doces maravilhosos. Medialunas, tortas, alfajores, empanadas, panqueque de manzana, além de pizzetas, chivitos e panchos: os carboidratos são fundamentais na mesa. Adultos escutam Chico Buarque, jovens gostariam que o Ronaldinho Gaúcho tivesse nascido mil quilômetros mais ao sul. Tem 97% de alfabetismo, e os museus são de graça. As lãs custam quase nada, e o doce de leite se come de colher. Em fevereiro, percebi que essa cidade é tipo uma colagem de tudo que gosto. E foi aí que senti.

Alfabeticamente perto do ponto G, a felicidade é como um orgasmo. Um orgasmo emocional.

12 comentários:

Samir Oliveira disse...

Ponto P: perfeito!

Samir Oliveira disse...

desculpee, enviei os outros sem querer, é o mesmo q o primeiro, é q apertei d mais p enviar e enviou tres vezes :S

pode apagar esse qnd ler, ehhehe

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

eu nunca parei pra pensar sobre os momentos esses momentos de felicidade que experimentei...
pensarei a respeito!
adorei o texto!
beijos

ijreis disse...

Texto perfeito!
Aliás, todos os q eu li até agora aqui no blog são ótimos!!
Simples, inteligentes, divertidos, gostosos de ler!
Parabéns!
Ainda não li todos, mas já tomei isso como tarefa de férias! hehe

Bjoo

Ananda Etges disse...

Liza!
AMEII!!
Mtoo lindo!
Tema delicado e palavras certas. Simplificou teus sentimentos de maneira adorável!
Beijoo e bom resto de férias!

Luana Duarte Fuentefria disse...

Esses raros momentos de prazer são a corzinha que falta em nossas vidas. Basta sabermos enxergar e valorizar esses pequenos e tão significativos prazeres.
Gosto sempre de lembrar desses momentos. Pena que não voltam mais...

Giane Laurentino disse...

Só vou repetir o que todo mundo já falou adorei. É bom pensar que tem pessoas que não ficam apenas no lugar comum e reparam nos detalhes dos lugares por ondem passa.O texto ficou bom, eu sou fã do que tu escreve!
BJUS

Luana Duarte Fuentefria disse...

Mas ei!
Aqui os museus também são de graça!
hehe

Liza Mello disse...

está bem.. está bem... dona luana! mas as las nao sao baratas e as ruas nao sao seguras!
:)

Anônimo disse...

Tudo bem, tudo bem. Lá é uma maravilha mesmo, eu concordo. A única desvantagem é que não tem nóis, a grande família! hehehe
Tá escrevendo cada dia melhor, hein. Muito bom o texto. Bjos!

Anônimo disse...

Fico feliz que estes lugares e as pessoas façam parte dos teus momentos de felicidade, assim como fazem parte dos meus! O texto está muito bom. Dá vontade de ler até o final.

Giana Hahn disse...

P-E-R-F-E-I-T-O!