domingo, 10 de fevereiro de 2008

Luxo no lixo

Nos tempos de ócio, reservado apenas para a parcela estudantil deste planeta, estive pensando num dos fatos mais paradoxais dessa vidia loca. Comprar me dá (será que é só comigo?) tanto prazer quanto jogar coisas fora. Não digo naquele sentido bonito, solidário e cristão de Campanha do Agasalho em que você imagina uma pessoa carente feliz por estar quentinho neste inverno. Falo da sensação de aglomerar num grande saco azul/preto/marrom todos aqueles objetos que você, a partir de um certo período, passou a achar desnecessário na sua vida.


Ir no shopping e voltar para casa cheia de sacolas é como pegar essas mesmas sacolas, as encher de cacarecos (vendo aquela prateleira, antes abarrotada, agora no mais completo vazio) e as colocar à disposição dos lixeiros.


Deve dizer em muitos livros de auto-ajuda: jogar fora limpa a alma. Bom, ou pelo menos limpa a casa. Na verdade, não precisa nem ser um processo radical. Um dia desses faxinei as comunidades do meu orkut. Tirei todas aquelas que não eram para mim indispensáveis. Não era pelo espaço, claro. E, sim, pela sensação. A sensação de fazer espaço.


Sempre tive uma certa inveja de gente que vive de mudança. Ok, dá trabalho empacotar uma casa, e os móveis nunca chegam intactos ao destino final. Mas ainda assim... você é obrigado a rever peça por peça que foi adquirida durante a sua vida e traçar os seus destinos: love it or leave it.


Em pelo menos 80% dos filmes que apresentam uma avó no elenco (porcentagem totalmente livre), há uma caixa de recordações. A senhora arrasta os pés cansados até a cômoda do quarto, abre a primeira gaveta e tira, com as duas mãos, uma pequena caixa de madeira. Tira a poeira da tampa com uma das mãos e abre. Ali tem a foto de seus pais ainda jovens, alguma jóia de família e quem sabe algum brinquedinho de infância.


Nossa.... eu achava aquilo o mááááximo. TODA uma vida naquele espacinho?! Aí quis fazer igual. E desde então eu tenho a minha caixa de recordações. Ela começou numa caixa de sapatos. Aumentos junto com o pé e hoje é a caixa de uma bota. E olha que lá tem praticamente só papel. As fotos dos meus pais ocupam boa parte de um armário da sala, e os brinquedos... putz! um armário inteiro do meu sótão (e eles são sempre alvo de faxinas! eu juro!)!


Me sinto um pouco como um computador, com uma 'memória' limitada. Que para viver mais, saber mais, tenho que me livrar de outro tanto. É com uma grande satisfação que lembro que vou estudar em Buenos Aires em agosto( obaaaaaa!). Juntarei todos meus pertences dentro de uma mala. Ok, dentro de uma graaaaande mala.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Yorks

Eu tinha 11 anos quando encostei meus pés já número 37 em terras britânicas. Minha mãe, que na época fazia um curso de inglês em Leeds (a terceira maior cidade do Reino Unido, perdendo para Londres e para Manchester), foi até uma cidadezinha ali perto junto com a sua turma para fazer um trabalho de aula. Como uma boa parcela da classe era árabe e estava em pleno Ramadã, sobraram muitas vagas no ônibus (pelas leis do Islã, não se pode se afastar 40 km da sua mesquita durante o período de jejum). Enfim, meu pai e eu fomos convidados a participar do passeio.

Fomos parar em York. Uma cidade de 120 mil habitantes que você leva no máááximo um dia para a conhecer de cima a baixo. Entre as GRAAANDES atrações dessa 'metrópole', estava uma miniatura de diabo medieval que marca a rua Stonegate, esta construída sobre uma estrada romana. Outro ponto interessantííímo (entre tantoooos, claro): a menor rua de York tem o nome mais longo de todos e se originou na época dos saxões: 'Whip Ma Whop Ma Gate' significa 'Nem uma coisa nem outra'. Intrigante.





Pisando na Grande Maçã é praticamente impossível acreditar que alguém lembrou de York para a nomear. Claro... isto foi em 1664, numa época em que se resumia à área que hoje se chama Lower Manhattan (a pontinha sul de Manhattan). Mas ainda assim é estranho pensar que aquela megalópole não nasceu assim: cheia de chineses, latinos (os tais mexicanos) e Starbucks por todos os lados.


Mesmo se você ainda não teve o privilégio de ter que espichar o pescoço para observar um prédio de mais de uma dezena de andares, em uma hora aqueles arranha-céus viram triviais. É só respirar aquele arzinho new yorker que você já se acha a Andrea do Diabo Veste Prada (depois que ela descobre a moda, é claro). O brasileiro, famoso por achar que o seu país é campeão em tudo (acredite: temos essa fama...), deve esconder o ego em Nova York. Lá você encontra a maior loja do mundo (a Macy's, ocupante de um quarterão inteiro e possuidora de nove andares), a maior igreja católica do mundo, o maior museu do Ocidente (o Metropolitan), em que há a maior coleção de artefatos egípcios fora do Egito. Entre outros tantos 'o maior', 'do mundo',.. que eles não cansam de colecionar.


(Para ver a vitrine da Macy's decorada para o Natal, para conhecer os meus pais e/ou para testemunhar um rápido conflito familiar, assista ao vídeo abaixo:)


ps: texto antiiiigo.. e menor do que o imaginado... mas já estava na hora de tirá-lo dos rascunhos...