Ir no shopping e voltar para casa cheia de sacolas é como pegar essas mesmas sacolas, as encher de cacarecos (vendo aquela prateleira, antes abarrotada, agora no mais completo vazio) e as colocar à disposição dos lixeiros.
Deve dizer em muitos livros de auto-ajuda: jogar fora limpa a alma. Bom, ou pelo menos limpa a casa. Na verdade, não precisa nem ser um processo radical. Um dia desses faxinei as comunidades do meu orkut. Tirei todas aquelas que não eram para mim indispensáveis. Não era pelo espaço, claro. E, sim, pela sensação. A sensação de fazer espaço.
Sempre tive uma certa inveja de gente que vive de mudança. Ok, dá trabalho empacotar uma casa, e os móveis nunca chegam intactos ao destino final. Mas ainda assim... você é obrigado a rever peça por peça que foi adquirida durante a sua vida e traçar os seus destinos: love it or leave it.
Em pelo menos 80% dos filmes que apresentam uma avó no elenco (porcentagem totalmente livre), há uma caixa de recordações. A senhora arrasta os pés cansados até a cômoda do quarto, abre a primeira gaveta e tira, com as duas mãos, uma pequena caixa de madeira. Tira a poeira da tampa com uma das mãos e abre. Ali tem a foto de seus pais ainda jovens, alguma jóia de família e quem sabe algum brinquedinho de infância.
Nossa.... eu achava aquilo o mááááximo. TODA uma vida naquele espacinho?! Aí quis fazer igual. E desde então eu tenho a minha caixa de recordações. Ela começou numa caixa de sapatos. Aumentos junto com o pé e hoje é a caixa de uma bota. E olha que lá tem praticamente só papel. As fotos dos meus pais ocupam boa parte de um armário da sala, e os brinquedos... putz! um armário inteiro do meu sótão (e eles são sempre alvo de faxinas! eu juro!)!
Me sinto um pouco como um computador, com uma 'memória' limitada. Que para viver mais, saber mais, tenho que me livrar de outro tanto. É com uma grande satisfação que lembro que vou estudar em Buenos Aires em agosto( obaaaaaa!). Juntarei todos meus pertences dentro de uma mala. Ok, dentro de uma graaaaande mala.