quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Pinças & hímens*. e um pouco de sorte.

Me colocaram numa salinha minúscula, abafada pela falta de janelas. Me mandaram tirar a roupa, o que fiz de forma obediente. A pessoa que me acompanhava era notavelmente habituada com aquele sistema. E, talvez por isso, tive uma certa vergonha por as minhas mãos suarem de nervosismo.

Lá estava eu, para mais uma prática comum, mas para mim nunca normal, que é a depilação. A profissional Juliana, que todos chamam de Ju, já tinha aprontado seus sádicos apetrechos minutos antes da minha entrada tímida no local. Ela faz questão que a chamem de Ju. E a maioria das suas clientes assim o faz, menos eu e talvez algumas outras do contra. Chamar seu torturador pelo apelido me parece uma atutude, no mínimo, descontextualizada. Porque sim, depilação é uma tortura consentida. 'Mas vale a pena, né?', ela disse rindo. Cromaticamente, respondi seu humor negro com um sorriso amarelo.

Sozinha, já na parada, um cara interrompeu o meu complexo processo autoterapêutico de lembrar porque mesmo eu me submetia àquele líquido espesso, queimante e doloroso. O sujeito fez a ação de se aproximar - o que, pelo menos no Brasil, causa a instantânea reação de recuo do elemento B. No caso, o elemento B era eu. E eu jurei que o elemento A ia me assaltar. Depois do papinho "calma moça, não sô bandido não... é que eu tava preso (AAHH!!!) e tô precisando de 15 reais pra ir pra Viamão", a dúvida virou certeza. Mas a sorte quis me recompensar pelos sessenta minutos anteriores de martírio besuntante, e ele disse "só tô querendo trocar essa ficha de ônibus (objeto redondo, chato e verde na palma de sua mão) por dois reais." Eu, que não tinha troco, dei um real para o homem, que saiu agradecido. Um tempo depois, o vi correndo atrás de um garoto, do outro lado da rua. E a minha raiva pela depiladora finalmente cessou.


* para entender 'hímens', leia o texto abaixo.